quarta-feira, março 7

Inserida num contexto frágil de constante actualização, a Porta 603 faz jus ao conceito New Crafts. São mostrados nesta porta objectos simples que em acessórios como malas, colares, bolsas, porta lápis, ou puros objectos lúdicos como as bonecas de trapos. Estes objectos resultam duma pesquisa constante do que é realizado por artistas próximos, denotando as diferenças existentes entre eles e valorizando a sua singularidade. A colecção formada espontaneamente por diferentes autores tem pois princípios comuns que os une. Saber fazer, gostar de fazer torna cada objecto em “muito mais do que simples acessórios de moda”, são peças únicas que transportam em si a entrega do seu autor, a sua afectividade.

Os materiais utilizados não são nobres, possibilitando a cada cidadão o acto de criar. Somos todos designers, temos o direito de transformar uma garrafa de água numa jarra de flores. Todos os materiais são válidos e cada vez mais justificados pela sua própria existência. Reutilizar materiais à partida improváveis faz de cada criação surpreendente e nova. Embalagens tetrapack são excelentes pontos de partida para conceber objectos destas tipologias.

Entre uma e outra conversa encontra-se numa drogaria pequenas peças técnicas com características expressivas impensáveis que resultam em pequenos pormenores de originalidade. Tudo se mistura. Nas lojas de bijutaria, em notória expansão, encontram-se os ready-mades de grande importância, normalmente utilizados na criação da bijutaria.

Botões armazenados em caixas ou arrumados em gavetas que parecem não ser abertas há longos meses, recolhidos de onde parecia que nunca mais iriam sair.

Não nos podemos abstrair da nossa responsabilidade e se preferirmos não pensar no assunto não estamos senão a adiar a leitura das consequências. Vivemos num mundo que enfrenta sérias dificuldades e os fossos entre os dois mundos encontra-se em franco desenvolvimento. Na realidade os dois estão bem próximos de nós e vemo-lo ao sair da porta.

Porquê ready-mades, porquê recolha, porquê materiais não nobres? A estratégia de criação que opta por esta forma de fazer caracteriza-se por ser intuitiva, valorizando o sentimento. Aproveitar o que é encontrado não é mais do que seguir o coração, escolher os materiais que causam alguma emoção em nós. São estes sentimentos desde a escolha do material à sua fotografia, que o objecto transporta consigo evitando que os sentimentos, estes sejam mais um objecto dando-lhe características de peculiaridade.

São objectos efémeros, é certo, objectos que vamos consumir por pouco tempo e que podem, depois desta, assumir outra função. O ciclo é interminável e a nossa tarefa não se esgota no final desta dissertação. Somos seres responsáveis e sofremos as consequências da nossa atitude. É esta a altura certa para começarmos a pensar.

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