terça-feira, janeiro 2

Um novo rumo para o design

“O enjoo provocado pela produção em massa do capitalismo moderno obrigava a novas soluções. Há uma nova consciência de que o consumidor também tem alguma coisa a dizer sobre as coisas que povoam o seu dia-a-dia e que está autorizado a transformar uma garrafa de plástico numa jarra de flores.”1
“Um bom design não é uma resposta neutra à solicitação de um cliente: é essencialmente uma crítica ao conteúdo para o qual foi produzido.”2 O designer já não é simplesmente um criador de objectos, tornou-se numa personalidade com grande responsabilidade cultural. As suas criações não são de todo inocentes, transmitindo valores e ideias tornam-se em designers de atitudes, de formas de estar.

“Torna-se necessário acentuar que a cultura do consumo significa mais do que o simples consumo (Featherstone, 1991) e que o interesse que este desperta é societal e historicamente universal. Contudo, numa cultura do consumo, os objectos consumidos assumem um valor simbólico e não apenas material. Este aspecto surge em sociedades em que os grupos poderosos, geralmente os que procuram acumular capital, encorajam os consumidores a “quererem” mais do que aquilo que “necessitam”. Na verdade, esses grupos vão procurar confundir o significado destes dois termos. Numa cultura de consumo, esta torna-se a principal forma de auto-afirmação e a mais importante fonte de identidade, implicando que tanto os bens materiais como os não materiais, incluindo o parentesco, o afecto, a arte e o intelecto, se tornam mercadorias, isto é, o respectivo valor é avaliado mais pelo contexto em que decorre a sua troca do que por aquele em que são produzidos ou utilizados.”3 É aqui que a responsabilidade e as convicções do designer entram na sua actividade. Elas vão delinear os objectivos da criação, definindo-a como vazia ou intencional. Se por um lado o designer é livre de exercer a sua profissão, por outro lado ele faz parte de um estrato da sociedade que o seu trabalho é uma base transportadora de valores e ideias estreitamente relacionadas com a sua cultura de projecto.

O próprio consumidor assume o papel de designer – o Prosumidor (Alvin Toffler) querendo ter a palavra final nos produtos que consome, criando assim com eles uma nova dimensão afectiva, valorizando-os. O Prosumidor está presente no mercado desde o ténis ao automóvel e encontra-se em ‘vias de expansão’; difundindo-se esta ideia todos nós podemos ser designers. A nossa cultura projectual é todo o conhecimento lato, sem metodologia definida, dando prioridade à componente prática.

“The British Council has started an iniciative to strengthen the links between Brazil and London through this cooperative, allowing at the same time, an opportunity for a more diversified dialogue between the north and the south that can enrich both. Bringing local values and forms into ‘global’ products and servicies is one of the most sensitive áreas in design, and where designers can provide a valuable service. Transnacional companies, such as Microsoft, have faced many problems in various Markets because of the lack of understanding of the local culture.”4

“Thus, it is imperative that designers understand the consequences of their work in the larger system, beyond that of its immediate context. The actions and outcomes of the sum of the design practices –whether real or virtual, whether local or global- are shaping our globe, and are setting the conditions for new paradigms not only in the material world, but also in the social, economical, cultural and political landscapes. Therefore, the new challenge for designers comprehends: 1) a systems thinking approach, 2) the ability to synthesise –in contrast to simplify-, 3) the capacity to make appropriate judgements, and 4) a stronger ethical model.”5

[1] ‘Parem as máquinas’ – Telma Miguel, Única, Expresso nº 1616, 18 de Outubro de 2003.
[2] Arc Design nº 46.
[3] Waters, M., Globalização, Celta Editora, Oeiras, 2002.
[4] Paula Bello de Aranaga, Goodscapes, 4ª Conferência Internacional em História do Design e Estudos de Design, Guadalajara, México.
[5] Paula Bello de Aranaga, Goodscapes, 4ª Conferência Internacional em História do Design e Estudos de Design, Guadalajara, México.

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